sábado, 11 de maio de 2002

PEDRA DA TARTARUGA - RIO DE JANEIRO/RJ



Dono de uma extensa faixa litorânea, o município do Rio alçou fama internacional graças, em grande parte, às suas praias urbanas. Mas essa orla generosa, que abriga dezenas de praias, esconde um verdadeiro tesouro, pois preserva coinco delas ainda selvagens. São recantos paradisíacos, protegidos por paredões de pedra e vegetação exuberante, acessíveis apenas por trilhas ou por embarcações. Situadas entre Grumari e Barra de Guaratiba, as Praias selvagens estão localizadas dentro dos limites do Parque Estadual da Pedra Branca. De águas límpidas e praticamente intocadas, estas praias oferecem uma ótima oportunidade para os que buscam locais distantes e pouco freqüentados, longe das badaladas praias urbanas do litoral carioca, porém dentro da capital.
 As praias dos Búzios (ou das Conchas), do Perigoso, do Meio, Funda e do Inferno são pouco conhecidas até mesmo por cariocas, pelo menos até agora, mas pra quem não sabe, elas já serviram como posto avançado para a primeira invasão da cidade do Rio de Janeiro pelo corsário francês Jean-François Duclerc. Este ataque foi rechaçado pelas fortalezas de Santa Cruz e São João, na entrada da Baía de Guanabara.

Eu, meus filhos e outros amigos seguimos para a praia da Barra de Guaratiba, onde estacionamos os carro e começamos a caminhada subindo uns 300 metros da Estrada do Canto da Praia e depois a esquerda um conjunto de escadarias até chegar na estrada Parlon Siqueira. Deste ponto já é possível visualizar o belo litoral de Barra de Guaratiba e da longa restinga de Marambaia. Depois seguimos a esquerda, subimos mais um pequeno trecho dessa íngreme ladeira, dobramos a direita numa servidão que vai afinando até virar propriamente uma trilha. O caminho é bem marcado e segue sinuosamente a encosta em um habitat praticamente selvagem, com interessantes formações rochosas, que contornam o recortado litoral, sempre com o mar a direita da trilha, e que as vezes nos presenteia com uma bela visão da Pedra da Tartaruga, que em seu melhor ângulo nos faz lembrar o quelônio. Para abrilhantar ainda mais este magnífico cenário
avistamos a Ilha Rasa com seu antigo farol ao largo de um imenso mar azul. Continuando sempre seguindo pela trilha principal, ignorando algumas entradas para trilhas secundárias que descem ligeiramente a direita, cruzamos depois de mais de 1 Km com um ponto de água, conhecido como Riacho da Vovó, muito utilizado pela galera que faz trilha neste local. Aproximadamente 200 metros depois do ponto de água chegamos a 2ª bifurcação, onde iniciamos uma descida na encosta até chegar a base da Pedra da Tartaruga. No final da descida, literalmente nas patas da tartaruga,pode-se optar por 2 caminhos, o da direita, é uma plana e curta trilha que segue direto para a primeira praia selvagem, a praia dos Búzios, uma pequena praia pedregosa que fica de frente para a Ilha Rasa. O caminho a esquerda, também com quase 100 metros, alcança a Praia do Perigoso e neste mesmo caminho uns 50 m antes, dobrando a esquerda chega-se a subida da Pedra da Tartaruga. Depois de quase 100m entre a esquerda novamente para uma subida final de 350m até a cabeça da Tartaruga, local onde existe inúmeros vias de escaladas e o famoso rapel negativo de quase 50m. Permanecemos ali um bom tempo rapelando e contemplando aquele bonito cenário emoldurado pelas últimas praias selvagens da cidade e mais ao fundo as praias de Grumari, Recreio dos Bandeirantes, Barra da Tijuca, Maciço da Tijuca e pedra da Gávea.

Considerações finais: É uma caminhada moderada, sem desnível acentuado e de fácil orientação, com duração de aproximadamente 1:00h até a praia do Perigoso e pedra da Tartaruga. O roteiro todo até a Praia do Inferno tem duração de 4 a 6hs. O acesso por trilha limita bastante a presença de banhistas às cinco praias. É fato. Mas seria inverdade afirmar que elas são sempre desertas. Esse pedaço de paraíso ainda protegido do litoral carioca costuma ser refúgio de dezenas de praticantes de camping "selvagem", apesar de proibido, nos feriado prolongados e na temporada de verão, deixando um rastro de lixo para trás e algumas pedras pichadas pelo caminho, indicando que a região não está a salvo de vandalismo, embora faça parte d e uma Área de Proteção Ambiental, porém fora dos períodos tumultuados, as praias estão praticamente desertas, exibindo toda sua beleza, além de descortinar outros diferentes ângulos. As duas primeiras praias, Búzios e Perigoso, por terem águas mais calmas (apesar de risco de correnteza) e acesso mais fácil, são as preferidas de quem se dispõe a fazer a caminhada até elas. A Praia do Meio, é a maior e favorita dos surfistas.


Todo o esforço até esses pontos é recompensado, pois tudo é lindo, deserto e selvagem, nem parece que estamos em plena cidade do Rio de Janeiro. É um lugar realmente especial.


É bom lembrar para levar bonés, chapéus ou viseiras, pois a maior parte da trilha até a Pedra da Tartaruga e praias selvagens é feita em área descampada, o que pode ser bastante desagradável em dias de sol e calor. Abuse do protetor solar e não se esqueça de levar proteção para os olhos.



































sexta-feira, 19 de abril de 2002

TRAVESSIA ARARAS X SECRETÁRIO - PETRÓPOLIS -RJ




Em abril de 2002 encontrei com alguns amigos do CEB(Centro Excursionista Brasileiro) na Casa do Alemão em Petrópolis e nos dirigimos ao Terminal de ônibus em Corrêas, onde deixamos nossos carros e pegamos um busão para o distrito de Araras para realizarmos a bela travessia Araras x Secretário. Com 15 km de extensão essa Travessia é realizada entre 4 e 6 horas e é considerada uma caminhada leve superior. Na verdade, essa travessia é parte do caminho mais antigo de Petrópolis, o trecho do Caminho do Ouro conhecido como Atalho do Proença, aberto pelos bandeirantes para chegar as Minas Gerais. Para quem curte história, ainda é possível perceber em certos trechos da trilha um calçamento bem rústico feito de pedras.
A travessia se inicia no Distrito de Araras, em Petrópolis, e é só descer do ônibus no centrinho e pegar a Estrada das Perobas que fica em frente a uma bela igrejinha. Dali, encaramos 1 hora aproximada de subida em uma estrada de paralelepípedos até o começo da trilha, onde nos deparamos com várias torres de energia elétrica. Na trilha, passamos por dentro de um vale entre o Morro da Mensagem e o João Grande, onde o caminho começava a ficar cada vez mais pitoresco até entrar definitivamente na mata fechada da serra, onde surgem resquícios do caminho do ouro, com trechos de estrada de pedras. Sempre subindo, passamos por mirantes, com belos visuais, subimos também o cume do Morro da Mensagem e paramos para lanchar numa pedra que é o ponto mais alto da trilha, com 1189 metros de altitude, e deste lugar se obtêm uma linda vista de boa parte do Distrito de Secretário. Depois de muitas fotos realizamos uma longa descida, e nesse ponto da caminhada, o clima de interior é muito legal, alguns sítios, gado no pasto, uma variedade multicolorida de pássaros livres nas árvores e arbustos e muita gente simples fazendo com que a gente tenha aquela sensação de que realmente estamos na roça. A Maria Comprida, a grande montanha de Araras, nos acompanha imponente por quase todo esse trajeto embelezando o cenário. Passamos também por grandes pedras de formatos interessantes.
Já em Secretário, cansados ainda andamos um bom pedaço até o ponto de ônibus. O ônibus saiu ao lado da Cervejaria Itaipava e nos deixou no Terminal de Corrêas, onde havíamos estacionado nosso carro. Voltamos para casa cansados e felizes. A Travessia Araras Secretário pode ser bastante interessante ser feita em dias mais quentes, principalmente no verão, pois quase no final da caminhada você pode se refrescar, foi o que fizemos, nas águas geladas da Cachoeira da Rocinha, em Secretário, que possui também um grande escorrega para os mais aventureiros.

DICAS
Tenha muito cuidado enquanto estiver andando pelas ruas de terra de Secretário, pois os carros lá “voam” e bom não ficar distraído. Procure caminhar no cantinho da estrada.  
 

















quinta-feira, 31 de janeiro de 2002

PICO DO PAPAGAIO - ILHA GRANDE / RJ





Estávamos de férias em janeiro de 2002 curtindo aquele verão na paradisíaca Angra dos Reis, mais precisamente na casa de meus pais na praia de Garatucaia. Pela manhã na praia com a família, pegando aquele sol, caminhando pela areia e olhando o mar, vislumbrei ao fundo a Ilha Grande, com sua exuberante Mata Atlântica e em destaque uma Pedra em forma de um Bico de Papagaio. Eu como aprecio muito as montanhas, pensei vou subir aquela montanha. E no dia seguinte bem cedo, Eu, meus filhos, Thiago e Juliana e mais o meu sobrinho Leleu, de carro nos dirigimos para o cais de Mangaratiba para pegar a barca para a Vila do Abraão na Ilha Grande. Tudo isso realizado numa tremenda correria, pegar mochilas, arrumar estacionamento e correr até o cais, pois só foi a gente comprar as passagens para a barca apitar para sair. Ufa, quase a perdemos.

Este pico pode ser avistado facilmente da Vila do Abraão e recebe esse nome devido ao seu formato que lembra muito a cabeça de um papagaio, na minha opinião parece mais um rato. Descemos na vila e para alcançar o inicio da trilha, seguimos a estrada em direção a Praia de Dois Rios, tomando todo cuidado para não passar de uma placa indicativa(T13) localizada no lado direito, onde a trilha tem seu início. Deixando a estrada, a trilha começa estreita numa mata bem fechada e no decorrer da caminhada nos deparamos com uma imensa variedade de espécies de vegetação endêmica da região. Alguns obstáculos no caminho não comprometeram a caminhada, são geralmente árvores de grande porte que sucumbidas pelas intempéries impedem a passagem, mas nada que um desvio não resolva. Passamos ora por cima, ora por baixo desses imensos troncos, sempre subindo em direção ao cume. Depois de aproximadamente 15 minutos de caminhada desde o início, a trilha apresenta uma curva à esquerda e fica ligeiramente plana e até desce um pouco.
Após cruzar um riacho e com muitos obstáculos no solo ela volta a subir e descer novamente, até passar sobre uma laje de pedra, onde penetramos em um vale onde a trilha fica ligeiramente plana, mas volta a subir ao deixar as vertentes para trás. O gradiente de subida vai aumentando e se nenhuma nuvem atrapalhar, da para ver um morro bem alto e distante por entre as árvores. Neste mosaico confuso entre pedras e riachos a trilha praticamente some, e surge então uma placa de sinalização T13. Após essa placa a trilha cruza um riacho, não beba água neste riacho e sim depois de passar rente a uma enorme pedra, onde surge o maior riacho da caminhada, onde a parada é recompensada pela exuberante natureza do local, onde além da flora, é possível apreciar uma bela fonte que nasce sob um bloco de pedra e que jorra água sem medo do desperdício. Aproveite a generosa oferta gratuita e saboreie uma autentica água mineral na fonte, hehehehehe. A fauna estava sempre presente na trilha e o barulho dos macacos bugios nos acompanhou durante quase todo o percurso. Continuando a subida passamos por imenso arvoredo e ao lado de uma imensa árvore à esquerda cujas raízes parecem engolir uma pedra. Contornando essa pedra, a trilha faz uma curva à esquerda e nesse trecho, olhando por entre a mata à esquerda, dá para notar que o topo do morro que você sobe está próximo, o que não significa que a subida acabou, pois para alcançar o cume ainda falta muito chão. Depois de passarmos por imensas pedras, chegamos a um enorme bambuzal, neste trecho observe com atenção o leito da trilha, pois, devido a grande quantidade de folhas, o piso erodido fica praticamente encoberto.Após o bambuzal a trilha segue em ziguezague, e mais adiante atravessa um trecho alagadiço, onde uma placa de sinalização (T13) indica que vc está no caminho certo e já próximo da base do Pico. Continuando passamos por muitas samambaias pelo caminho e novamente surge a placa T13.
Mais adiante encontramos uma bifurcação e seguimos pela a trilha a esquerda passando sobre vários blocos de pedra, troncos e raízes até surgir novamente a placa (T13). Seguindo encontramos outra bifurcação, seguimos à esquerda. A trilha a direita dá acesso a um mirante na base do pico. Chegar à base do Pico apesar de faltarem alguns trechos com rochas para serem atravessados já é compensador, encontramos belíssimos mirantes e ficamos extasiados pela beleza do local e pela forma inusitada do conjunto de rochas que formam o desenho de um bico de papagaio, chegar até aqui já vale a caminhada. A imponente figura de um papagaio com o seu bico apontado para a Baía da Ilha Grande revela a riqueza das matas da ilha, de sua fauna e flora. O Papagaio é o guardião de toda essa biodiversidade. Na base do pico também observamos algumas vias de escaladas, sendo uma dessas vias dando acesso ao cume do Papagaio. Entretanto, emoções maiores estão por vir. Ao afastar-se do paredão, a trilha avança sobre pedras e volta a subir cada vez mais inclinada e vários mirantes aparecem no decorrer dessa subida, proporcionando estonteantes visuais. Deparamos com um trecho de escalaminhada com muitas bromélias e pequenos arbustos que termina numa pedra inclinada, que é exatamente o cume, sim depois de muito esforço chegamos ao topo, melhor chegamos ao céu, pois a visão que se tem lá de cima mais parece o paraíso. Pra se ter uma idéia da grandiosidade desta maravilha da Ilha Grande, o Morro do Corcovado na Cidade do Rio de Janeiro tem 710 metros de altura e o Pico do Papagaio desponta no coração da Ilha e nos faz voar com ele a 982 metros de altura. É o segundo ponto mais alto da ilha Grande, atrás apenas do Pico da Pedra d´Água, com 1035 metros. Mirante natural com visão panorâmica de 360 graus de toda a Ilha Grande. Sem falar que é possível avistar em dias de céu de brigadeiro, o Dedo de Deus em Teresópolis, a colossal Serra do Cairuçu em Paraty e como um gigante adormecido, a Pedra da Gávea no Rio de Janeiro. O cenário ainda se completa se olharmos para o norte, vemos o mar abrigado pela costa,
onde está a Enseada das Estrelas, ao sul, o mar aberto, onde estão a linda Ilha Jorge Grego e a praia de Dois Rios, onde se encontra as ruínas do antigo presídio, a leste a Vila do Abraão e bem longe toda Restinga de Marambaia e a oeste a Vila de Araçatiba e a maior montanha da ilha, o Pico da Pedra d´Água..
Finalizando o visual que se vislumbra do pico do Papagaio é inacreditável e é um privilégio para aqueles que amam a natureza e tem perseverança para alcançar um objetivo, nesse caso o cume desta bela montanha.
Na volta, muito cuidado, pois é fácil confundir o caminho na base da rocha e pegar a trilha errada. E se você pensa que descer é a parte mais tranquila, que pra baixo todo santo ajuda, se enganou, prepare-se para 3 horas ininterruptas de muita ralação.
Dicas
- Atualmente existem 2 pontos principais onde você pode pegar uma balsa / barco para ir a Ilha Grande : Direto da cidade de Mangaratiba ou pelo distrito de Conceição de Jacareí, distrito de Mangaratiba, e é o local do continente mais próximo a ilha. A ida por Mangaratiba é a mais convencional e a que cabe mais gente.
- A trilha para o Pico Papagaio T13 é considerada uma das trilhas mais pesadas da ilha. Recomenda-se não fazê-la sem o auxílio de um guia experiente.
- Tempo previsto 3h para subir e mais 3h para descer.